Em corrida que ficou duas horas parada por causa da chuva, inglês ganha após duas batidas e seis paradas; Massa arranca sexto lugar no último instante
Faça chuva ou faça sol, Sebastian Vettel vinha dominando a Fórmula 1. E parecia pronto para ampliar o domínio no GP do Canadá, que teve chuva – a ponto de interromper a corrida por duas horas – e sol, numa aparição tímida após a relargada. O alemão da RBR controlou a prova do início até última volta, quando enfim, apareceu alguém para beliscar seu reinado. Com uma reação antológica, o inglês Jenson Button ultrapassou Vettel nos instantes finais e arrancou uma vitória improvável ao conduzir sua McLaren após duas batidas e seis passagens pelos boxes, incluindo uma punição. Quatro horas depois da largada, ninguém imaginava que o desfecho seria aquele. Mas Button teve um domingo para derrubar todos os prognósticos.
Como se não bastasse, o britânico ainda precisou torcer contra mais uma reviravolta, já que a direção da prova julgou dois incidentes que ele teve na corrida, um com Lewis Hamilton e outro com Fernando Alonso - os dois abandonaram. Quase duas horas depois da corrida, veio a decisão que aliviou o inglês: sem punição, vitória mantida.
Um decepcionado Vettel chegou em segundo, seguido pelo companheiro Mark Webber e pelo alemão Michael Schumacher, da Mercedes. Vitaly Petrov, da Renault, foi o quinto, e Felipe Massa também tirou um feito da cartola no último instante da corrida. Após escorregar 10 posições por causa de uma parada não prevista nos boxes, o piloto da Ferrari arrancou a sexta posição quase em cima da linha de chegada, ao ultrapassar o japonês Kamui Kobayashi, da Sauber.
Eufórico, Jenson Button comemora o triunfo dramático no GP do Canadá
Rubens Barrichello, da Williams, chegou em nono, na prova caótica que viu seis abandonos, incluindo Fernando Alonso, da Ferrari, e Lewis Hamilton, da McLaren. Após a batalha de Montreal, os pilotos folgam no próximo fim de semana e voltam à pista no dia 26 deste mês, para o GP da Europa, em Valência, na Espanha.Apesar do tropeço, Sebastian Vettel ainda é o líder isolado do campeonato, com 161 pontos. A vitória fez Button assumir o segundo lugar, com 101, seguido pelos 94 de Webber. Massa é o sexto da temporada, com 32.
A chuva canadense forçou uma largada sem jeito de largada, com o safety car puxando a fila. Na quarta volta, aí sim, o carro de segurança saiu de cena e a disputa começou de verdade. Alonso pressionou o pole Vettel, Massa pressionou Alonso, mas todo mundo se defendeu bem.
O safety car foi presença constante na corrida deste domingo no Canadá
Em dez minutos, Hamilton diz adeusHamilton abriu ali a montanha-russa dos seus dez minutos de corrida. Primeiro tentou forçar para cima de Webber, mas sua roda dianteira direita tocou o carro do australiano, que rodou e perdeu dez lugares na fila, caindo para 14º. O inglês caiu para sexto, atrás de Nico Rosberg e Schumacher. Afoito, tentou dar o bote no heptacampeão, mas levou um passa-fora, saiu da pista e perdeu posições. Pouco depois, na oitava volta, Lewis tentou forçar de novo, desta vez tocando o companheiro Button (veja no vídeo abaixo). Era só o primeiro percalço de Button, que caiu para 12º, mas quem se deu mal mesmo foi Hamilton, que bateu no muro e quebrou a suspensão traseira. Com a roda quase solta, continuou na pista – só por mais alguns segundos, até parar e abandonar o GP.
Com o incidente, lá foi o safety car de novo para a pista, e àquela altura a chuva até que dava uma trégua. Quando a disputa recomeçou, Button era o mais rápido - tão rápido que, antes da saída do safety car, excedeu a velocidade e, punido, foi obrigado a passar pelos boxes. Ainda assim, ele começou a deixar adversários para trás. Webber também subia pelas tabelas e, com as paradas nos boxes, voltou à quarta posição.
Na 19ª volta, a água voltou com força. Melhor para Vettel, Massa, Kobayashi e Webber, que não tinham trocado os pneus de chuva. Seus rivais foram obrigados a parar de novo, e o mau tempo foi buscar outra vez o safety car.
As paradas continuavam mexendo na fila, com Alonso tendo problemas e caindo para oitavo. Massa perdeu a segunda posição para Kobayashi – que manteve os pneus intermediários – e Vettel voltou em primeiro. E voltou reclamando. Pelo rádio, cobrou que não houvesse relargada naquele momento, por causa da aquaplanagem entre as curvas 9 e 13.
Ele tinha razão, porque, na 25ª volta, a chuva venceu. Bandeira vermelha, e todos os carros pararam no grid para esperar as condições melhorarem. Vettel liderava, seguido por Kobayashi, Massa, Heidfeld, Petrov, Di Resta, Webber, Alonso, De la Rosa e - ainda lá atrás - Button.
Enormes poças se formaram na pista e forçaram a interrupção da corrida
Durante uma hora e meia, a água castigou o circuito Gilles Villeneuve. Com os carros cobertos no grid, a organização mandou máquinas à pista para lutar contra enormes poças. Já eram 16h12m (no horário de Brasília) quando a chuva, enfim, parou. O céu ficou mais claro, as lonas começaram a ser retiradas e alguns motores foram ligados, enquanto o carro da direção de prova dava suas voltas para inspecionar as condições. Outra meia hora se passou e, quando foi anunciada a relargada para as 16h50m... outra pancada de chuva. Mas a corrida recomeçou mesmo assim, com o safety car à frente.
Até o sol, ainda que tímido, apareceu
Enquanto os carros iam levantando spray, a torcida nas arquibancadas vibrava. Na sétima volta após o recomeço, até o sol deu uma espiada rápida na corrida. Foi quando o safety car voltou aos boxes na volta 34, e a disputa recomeçou. Vettel conseguiu abrir um certo conforto, e Massa deu o bote em Kobayashi. Chegou a ultrapassá-lo, mas o japonês deu o troco imediatamente, mantendo a segunda posição.
Na 37ª volta, logo após sair dos boxes, Alonso se chocou com Button ao se defender de uma tentativa de ultrapassagem e foi parar no muro. O espanhol abandonou, e o inglês, no seu calvário, teve de voltar aos boxes. Nem deu para sentir saudades do safety car, que voltou à pista e ali ficou por três voltas.
Na relargada, os três primeiros mantiveram seus postos, e a emoção ficou a cargo de Schumacher. Em sétimo lugar, ele passou Webber e, logo depois, Di Resta, que tocou Heidefeld e teve problemas no bico. Heidfeld fez o que pôde para segurar Schumi, mas não resistiu na 44ª volta.
Dos boxes, a Ferrari pedia que Massa “tirasse Kobayashi do caminho” para perseguir Vettel, mas o japonês segurava a vice-liderança com unhas e dentes. Quando o brasileiro finalmente conseguia superar o japonês, na volta 52, veio uma manobra digna de heptacampeão: Schumacher aproveitou a disputa e ultrapassou os dois ao mesmo tempo, assumindo a segunda posição.
Massa e Schumi pararam logo em seguida, e o brasileiro deu azar. Com pneus slick, perdeu o controle na reta, bateu no guard rail e teve de voltar para trocar a asa dianteira. Com isso, escorregou para o 12º posto. Kobayashi também perdeu posições para Webber e Button, que àquela altura já fazia uma espetacular corrida de recuperação.
Felipe Massa perdeu posições no fim, mas arrancou o sexto lugar no último instante
O atual campeão conseguiu escapar bem na ponta, mas os três seguintes vinham colados. Webber chegou a passar Schumi, mas errou e permitiu não só o troco, mas a ultrapassagem de Button. Após seis paradas nos boxes, incluindo uma punição, o inglês foi para cima do alemão e não demorou nada para ultrapassá-lo. Webber também conseguiu deixar Schumi para trás e resistiu aos seus ataques, arrancando um pódio suado.
Na última volta, a cereja no bolo da reação de Jenson Button. O inglês partiu para cima de Vettel, que, pressionado, cometeu um erro e viu a quinta vitória escorrer pelos dedos. Com uma ultrapassagem improvável, contra tudo e contra todos, Button cruzou em primeiro.
Massa ainda teve tempo para perseguir Kobayashi e arrancar a sexta posição de forma dramática, quase em cima da linha de chegada. Com tantas reviravoltas na parte final, o Canadá já pode se orgulhar de ter visto neste domingo uma das melhores corridas de Fórmula 1 nos últimos tempos.
Diante de um Vettel frustrado (à esquerda), Button parece não acreditar em seu feito
1 - Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes) - 70 voltas em 4h04m39s539
2 - Sebastian Vettel (ALE/RBR-Renault) - a 2s709
3 - Mark Webber (AUS/RBR-Renault) - a 13s828
4 - Michael Schumacher (ALE/Mercedes) - a 14s219
5 - Vitaly Petrov (RUS/Renault-Lotus) - a 20s395
6 - Felipe Massa (BRA/Ferrari) - a 33s225
7 - Kamui Kobayashi (JAP/Sauber-Ferrari) - a 33s270
8 - Jaime Alguersuari (ESP/STR-Ferrari) - a 35s964
9 - Rubens Barrichello (BRA/Williams-Cosworth) - a 45s100
10 - Sebastien Buemi (SUI/STR-Ferrari) - a 47s000
11 - Nico Rosberg (ALE/Mercedes) - a 50s400
12 - Pedro de la Rosa (ESP/Sauber-Ferrari) - a 1m03s600
13 - Vitantonio Liuzzi (ITA/Hispania-Cosworth) - a 1 volta
14 - Narain Karthikeyan (IND/Hispania-Cosworth) - a 1 volta
15 - Jerome D'Ambrosio (BEL/MVR-Cosworth) - a 1 volta
16 - Timo Glock (ALE/MVR-Cosworth) - a 1 volta
17 - Jarno Trulli (ITA/Lotus-Renault) - a 1 volta
18 - Paul di Resta (ESC/Force India-Mercedes) - a 3 voltas/acidente
Não completaram:
Pastor Maldonado (VEN/Williams-Cosworth) - a 9 voltas/mecânico
Nick Heidfeld (ALE/Renault-Lotus) - a 15 voltas/acidente
Adrian Sutil (ALE/Force India-Mercedes) - a 21 voltas/acidente
Fernando Alonso (ESP/Ferrari) - a 34 voltas/acidente
Heikki Kovalainen (FIN/Lotus-Renault) - a 42 voltas/mecânico
Lewis Hamilton (ING/McLaren-Mercedes) - a 63 voltas/acidente
Melhor volta: Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes) - 1m16s956, na 69ª
Fonte: Globo.com
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