Após 19 temporadas e o recorde de GPs disputados, a carreira de Rubens Barrichello na Fórmula 1 parece estar mesmo próxima de seu final. Aos 39 anos, ele ainda disputava uma vaga na Williams, mas a equipe inglesa confirmou Bruno Senna como titular na terça-feira. Ainda restariam dois lugares disponíveis, mas a Caterham deve mesmo fechar com o russo Vitaly Petrov para substituir o veterano Jarno Trulli. A outra seria na Hispania (ou HRT, como quiserem. Na boa? Esta opção não vale a pena nem ser cogitada. Um time cheio de problemas internos, com um projeto duvidoso e investidores sem intimidade com o esporte. Uma carroça, em suma.
Neste momento, Rubens está nos Estados Unidos, onde curte férias com a família na Flórida. E qual seria seu futuro? Opções não faltariam. Conversei com pessoas próximas ao piloto sobre isso. E elas foram unânimes: é quase impossível que o veterano brasileiro assuma um cargo de consultoria em alguma equipe de Fórmula 1. Nas palavras delas: “Duvido muito que o Rubinho troque um fim de semana com a família para trabalhar e não correr.” Sua experiência poderia muito bem ser aproveitada em uma competição como o novo Mundial de Endurance (WEC). Disputar as 24 Horas de Le Mans por uma equipe grande seria um excelente caminho.
O fato é que sair da Fórmula 1 não é o fim do mundo. Muito pelo contrário, diga-se. Se não fechar nada relacionado à categoria, Rubinho deve ficar curtindo um ano ao lado da esposa Silvana e dos filhos Dudu e Fernando. Aí sim pensaria em correr por outra categoria. Falei do WEC, mas a Fórmula Indy e a Nascar, que correm nos ovais americanos, estão fora de cogitação. A esposa do piloto acha a proximidade dos muros muito perigosa, sensação que aumentou após a morte de Dan Wheldon na última corrida do ano passado. O fato é que a experiência e o know-how adquiridos nestes 19 anos são um excelente valor em qualquer categoria.
Rubinho tem mais é que se orgulhar destas 19 temporadas na Fórmula 1. Digo sempre que nenhum piloto consegue se manter por tanto tempo no topo sem ter competência. Foram ao todo seis equipes: Jordan, Stewart, Ferrari, Honda, Brawn GP e Williams. Foram 11 vitórias e 14 poles. Nenhum título, é verdade. Mas o fato de não ter sido campeão não pode diminuir o valor da carreira do brasileiro. É claro que ele cometeu alguns erros neste longo período. Mas tudo isso tem de ser comemorado e lembrado. Pena que alguns brasileiros não respeitem seus feitos e seu histórico na categoria. Mas tudo bem. É gente que não tem noção do que é o esporte.
Em 1993, estreou pela Jordan e fez uma corrida espetacular em Donington Park – estava em terceiro a poucas voltas do fim e seu carro quebrou. Depois, em 1994, começou o ano com pódio no GP do Pacífico e fez sua primeira pole na Bélgica, em Spa-Francorchamps. O problema foi a morte do ídolo e amigo Ayrton Senna. Em 1995, mesmo sem ter um carro à altura, assumiu a responsabilidade de ser o principal representante brasileiro na F-1. Talvez tenha sido seu grande erro. Mas recomeçar nunca foi problema para ele. Em 1997, topou o desafio de construir a Stewart e chegou à Ferrari em 2000 credenciado por excelentes atuações na equipe inglesa.
No time vermelho encontrou um enorme obstáculo de nome Michael Schumacher. Após seis temporadas de algumas vitórias, dois vice-campeonatos e polêmicas, aceitou a proposta da Honda para 2006. O projeto da equipe japonesa não era dos melhores e ela saiu da Fórmula 1 no fim de 2008, com a crise econômica mundial. Quase ficou fora da categoria naquele ano, mas Ross Brawn o escolheu para correr pela Brawn GP. E deu azar. Jenson Button se adaptou mais rapidamente ao carro e foi campeão mundial em 2009. Em 2010, realizou um sonho de infância: fazer parte da Williams. Mas a equipe não era a mesma de outros tempos. Mesmo assim superou com folga seus companheiros – o alemão Nico Hulkenberg e o venezuelano Pastor Maldonado.
Como já disse, um excelente piloto de Fórmula 1 não se faz apenas com títulos. Vários deles jamais conquistaram um Mundial, como Sir Stirling Moss, Gilles Villeneuve ou José Carlos Pace, só para citar alguns exemplos. E Rubinho entra nessa categoria. Se alguns brasileiros não reconhecem isso, azar o deles. A carreira do brasileiro na maior categoria do automobilismo merece os parabéns. E o futuro? Bem, será decidido com muita inteligência.
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Fonte: Globo.com/Voando Baixo - por Rafael Lopes
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