Por: Isis Nóbile Diniz
Imaginar como era a astronomia antes do século XX é uma aventura. A tecnologia disposta hoje mostra estrelas em formação, buracos negros e até planetas extrassolares - que orbitam outros sóis. Mas, em um passado não tão distante, como há 100 anos, nada disso era possível. Aliás, mal era comprovada a existência de outras galáxias.
Na astronomia ocidental, tanto conhecimento que temos atualmente do universo se iniciou devido à preocupação dos antigos com a própria sobrevivência. Em aproximadamente 2500 a.C., os egípcios sabiam quais eram as estações do ano observado a posição das estrelas. Prática fundamental para a agricultura. “A Pirâmide de Quéops, por exemplo, foi construída de tal maneira que, em determinada época do ano, a luz da estrela Sírio entrava dentro dela”, conta o astrônomo e físico Ednilson Oliveira.
Cerca de 1000 a.C., os antigos já sabiam que o calendário tinha cerca de 360 dias graças à observação dos astros. Em seguida, os gregos e os romanos criaram o princípio do relógio solar. “Fincaram um gnomo, uma espécie de vareta fina, no chão. Conforme a sombra mudava de posição, tinham noção das horas do dia”, explica Oliveira.
A olho nu, conseguiam observam cerca de seis mil astros, mas achavam que a Terra era fixa no universo. Mesmo assim, conseguiam calcular quando iria acontecer eclipses, observavam planetas como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Sabiam até que Mercúrio e Vênus giravam mais rápido. “Tudo era vinculado às divindades. Os cometas, por exemplo, interpretavam como fenômenos que os deuses enviavam para aterrorizar a Terra”, diz. Os filósofos como Platão e Aristóteles tentavam explicações mais racionais.
Por volta do século II d.C, o astrônomo Cláudio Ptolomeu notou que uma estrela voltava à mesma posição depois de 365 dias. Chegou ao resultado usando um sextante, instrumento que mede o ângulo de um astro no horizonte. Na mesma época, os cientistas de então perceberam que o tempo poderia ser contato na base do 60. Uma hora tem 60 minutos, um minuto tem 60 segundos. A lua girava em torno da Terra em cerca de 30 dias. O que foi chamado de mês.
Passada parte da Idade Média, no ano de 1473 nasceu o polonês Nicolau Copérnico que revolucionou a astronomia. O astrônomo afirmou que o Sol era o centro do universo, a Terra girava em torno dele e os planetas tinham órbita circular. "Este último, apesar de ser um erro, foi um avanço para a época”, diz Oliveira. Essas suas teorias foram publicadas depois que o astrônomo faleceu.
Cem anos depois, o alemão Johannes Kepler provou com cálculos que as órbitas dos planetas eram elípticas - e não circulares como escreveu Copérnico. Na mesma época, o dinamarquês Tycho Brahe conseguiu observar com instrumentos, em uma noite, o movimento dos planetas. Coisa que os gregos demoravam três dias para notar.
E, aí, começam as grandes navegações. Com a orientação de um astrolábio, os marinheiros mediam a altura dos astros com relação ao horizonte. Dessa forma, deduziam a latitude e longitude em que se localizavam. Para o movimento do navio não prejudicar o cálculo, usavam um contrapeso. Porém... se o céu ficava nublado ou passavam por uma tempestade... Precisavam esperar o brilho das estrelas para se localizar.
Em cerca de 1600 d.C, o militar holandês Zacharias Janssen queria observar os navios chegando antes do inimigo. Para isso, inventou a luneta. Na mesma época, Galileu Galilei ficou sabendo do invento e teve uma ideia genial. Sem nunca ter visto a luneta holandesa pessoalmente, criou uma mais aperfeiçoada e a apontou para o céu. Pronto. Se a astronomia já estava evoluindo, após o astrônomo italiano ela nunca mais seria a mesma.
Assim, Galileu descobriu que Júpiter tinha luas. “Foi um choque. As observações dele começaram a dar mais crédito para Copérnico”, explica Oliveira. O italiano também viu as crateras da Lua. Um absurdo na época, já que acreditava-se que o universo inteiro era perfeito sem “rugosidades”. Quando Galileu apontou para a Via Láctea... O mito de que ela era o leite derramado por uma mãe distraída acabou completamente. O astrônomo observou o conglomerado de estrelas.
Para se ter uma ideia da "precariedade", a luneta que ele usava aumentava a imagem em torno de 30 vezes. "Atualmente, as caseiras aumentam cerca de 300 a 400 vezes com uma nitidez melhor que a do Galileu”, diz Oliveira. Vale ressaltar que, em 1600, o teólogo Giordano Bruno foi condenado à morte na fogueira. Faleceu por defender que o universo era infinito e por acreditar que existiam outros mundos habitados.
Depois disso, passo a passo, a astronomia avança mais aceleradamente. O inglês Issac Newton, nascido em 1643, elabora a Lei da Gravitação Universal. Sugerindo que todos os corpos que possuem massa no universo se atraem. Em seguida, com o aperfeiçoamento do telescópio, descobriu-se os Anéis de Saturno. Em 1781, o astrônomo William Herschel avistou Urano. Até que "apareceram" Netuno, Plutão...
“Depois, Einstein se torna o marco divisor”, conta Oliveira. O alemão Albert Einstein, no no início de 1900, divulga sua Teoria da Relatividade - o tempo e o espaço são relativos. Antes disso, as leis de Newton eram suficientes para explicar o que ocorria na Terra e no universo.
Porém, no século XX, com o avanço de áreas da astronomia como a espectroscopia – que usa a radiação para estudar dados da física e da química de uma fonte – mais leis foram necessárias. Na mesma época, o americano Edwin Powell Hubble descobriu que o universo estava em expansão - o "start" para nascer a teoria do Big Bang.
Em 1919, o Brasil marca a história da astronomia. Cientistas do mundo inteiro foram para a cidade de Sobral, no Ceará, observar um eclipse do Sol. “De acordo com a teoria de Einstein, a luz de uma estrela ao passar próxima ao Sol deveria ser desviada. No interior do nosso País, conseguiram observar - e comprovar - tal teoria”, explica Oliveira.
Depois disso, tudo quanto era instrumento era apontado ou tentava captar "coisas" do céu. Raio-x, infravermelho, ultravioleta... E a visão do universo foi ficando mais completa. Comprovou-se que existiam outras galáxias, foi possível espiar o universo com 300 mil anos de idade e mediu-se a temperatura dele de -270ºC. Captaram o ruído da radiação do Big Bang. Em 1995, lançaram o Hubble, primeiro telescópio para fora da Terra. Driblando a atmosfera, já que ela atrapalha a observação.
No decorrer do século XX, cada cientista colaborou um pouco para o avanço da ciência. “Da época de Galileu até Einsten, um físico sozinho conseguia revolucionar a astronomia. Hoje, ela é tão complexa e a tecnologia está tão avançada, que é necessário uma equipe trabalhando em um telescópio para fazer as descobertas”, explica Oliveira.
Apesar de tanto avanço, há muito ainda para ser descoberto. “A próxima revolução será aquela que unificar as quatro forças – nuclear forte, nuclear fraca, eletromagnética e gravitacional”, acredita Oliveira. Decorrência da criação da mecânica quântica em 1920. Quando o Grande Colisor de Hádrons (LHC) voltar a funcionar, em 2009, poderá provar se existe mesmo o Bóson de Higgs - fundamental para entender a criação do universo - e verificar se a luz tem massa. Também falta saber o que é matéria escura e o valor da massa do universo.
Outros avanços da astronomia podem estar no olhar ao passado. Afinal, antes mesmo dos egípcios, na pré-história os povos nômades da Idade dos Metais representavam o Sol, a Lua e as Estrelas nas cavernas. Recentes estudos de arqueastronomia mostram que os astros, nas pinturas rupestres, estavam vinculados à caça. Como escreveu o escritor William Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”.
---------------
Fonte: IG Educação
Nenhum comentário:
Postar um comentário