1. Ontem, a Justiça de Myanmar (nome dado pelos militares golpistas à Birmânia) condenou Aung San Suu Kyi, 64 anos de idade e ganhadora do Nobel da Paz.
A pena foi de 3 anos de reclusão com trabalhos forçados.
O general Than Shwe, chefe da junta militar que governa Myanmar, comutou essa pena para 18 meses de prisão domiciliar. E justificou a mudança do regime de pena com o fato de Aung San Suu Kyi ser filha do falecido Aung San, herói nacional e que proclamou a independência do país, ex-colônia da Grã-Bretanha.
A condenação da Nobel da Paz já era esperada. Os militares marcaram eleições para 2010 e, com Aung Suu Kyi na prisão, ela não poderá fazer oposição ao regime ditatorial.
2. A ONU e a União Europeia tinham pedido a imediata soltura de Aung Suu Kyi, que está presa há 14 anos.
Com a nova condenação — baseada na acusação arbitrária de haver violado as regras disciplinares para quem se encontra em prisão domiciliar —, permanecerá 15 anos e seis meses sem poder sair da sua vigiada residência, à margem do lago Inya, em Rangoon, ex-capital birmanesa.
A secretária de Estado Hillary Clinton, em maio passado, afirmou que Aung San Suu Kyi não deveria nunca ter sido processada e que o fato imputado representava perseguição política.
3. Aung San Suu Kyi ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991. Não pode recebê-lo, porque estava presa.
A golpista Junta Militar birmanesa — instalada em 1988 e tendo à frente o narcogeneral Than Shwe — não permitiu a sua saída do país para receber o Prêmio Nobel.
Os generais transformaram a Birmânia num Narco-Estado. Eles embolsam também o obtido com as vendas de diamantes: a Birmânia tem reservas de diamantes e pedras preciosas.
Referidos generais davam sustentação ao recém-falecido Khun Sun, conhecido mundialmente como o Rei do Ópio, e das anfetaminas.
A Birmânia é responsável pela distribuição de drogas sintéticas e ópio para toda a Ásia. Ficou conhecida como Narco-Estado.
Em 1990 foram realizadas eleições gerais, por pressão internacional.
A vitoriosa foi Aung Suu Kyi, filha de Aung San, o grande herói da independência e que acabou assassinado pelos generais.
Aung Suu Kyi tornou-se a líder da Liga Nacional para a Democracia (NLD). Obteve o seu partido, nas eleições parlamentares de 1990, 392 das 485 cadeiras estabelecidas.
Surpreendidos com a derrota, os militares arrependeram-se de haver realizado as eleições. Então, Aung Suu Kyi, além de não assumir a cadeira de premier, acabou presa por suas ideias e a liderança.
Antiga colônia britânica, a Birmânia tornou-se independente em 1948.
A primeira ditadura militar teve início em 1962, sob comando do general Ne Win. Ele foi derrubado pela atual junta militar, que assumiu o controle do país em 1988, como frisado acima.
Aung Suu Kyi já permaneceu durante anos incomunicável, em prisão. Parte da pena — por crime político e de exteriorização do pensamento — ela cumpre, sempre incomunicável e com a casa cercada de soldados, na residência deixada em herança pelo pai, à beira do lago Inya.
Aung Suu Kyi está com 64 anos de idade. É viúva e não recebeu autorização para comparecer ao enterro do marido, com o qual estava impedida de se relacionar.
5. O motivo da prisão beira o ridículo.
John William Yettaw — um americano de 53 anos de idade, ex-combatente na Guerra do Vietnã e que está aposentado por problemas mentais — resolveu atravessar o lago Inya a nado e invadir a casa de Aung Suu Kyi. Sua meta, como adepto da religião mórmon dos EUA, era entregar uma bíblia para Aung Suu Kyi.
William nadou 2 quilômetros, invadiu a casa e surpreendeu a Nobel com a entrega da Bíblia. No dia seguinte à sua aventura, quando estava no aeroporto para retornar aos EUA, foi interrogado pelas autoridades, em atividade rotineira. Outra surpresa: William contou ter conseguido nadar 2 quilômetros e logrado entregar uma bíblia à Nobel da Paz.
Interrogada sobre o sucedido, Aung San Kyi, conhecida na Birmânia com o respeitoso apelido de “A Senhora”, confirmou o sucedido e frisou nunca ter visto antes o intruso William.
6. O general-ditador Than Shwe — que se notabilizou por ter coberto a filha de diamantes em cerimônia de casamento — prepara, sob pressão das Nações Unidas, uma outra eleição para 2010.
No final do mês de julho passado, Hillary Clinton denunciou a junta militar de Myanmar de estar contribuindo com a Coréia do Norte, que, em troca, ajuda em projeto de elaboração da bomba atômica.
O Blog Sem Fronteiras acompanhou todo o drama da Nobel. Veja aqui uma retrospectiva
-----------
Fonte: Terra e Blog Sem Fronteiras
Que bizarro, como é que ainda acontece esse tipo de coisa?!?
ResponderExcluir